O último livro do Jô Soares que eu gostei foi “O Xangô de Baker Street”, e suspeito que isso tenha sido mais pelo fato de eu ser um pirralho cabuloso orgulhoso de ter lido o livro todo em menos de 24 horas do que por qualquer mérito literário do livro em si. Ou talvez por eu ser um pirralho cabuloso que ficou realmente empolgado com a ideia de que Sherlock Holmes ia comer a guria do livro no museu em frente a múmia quando ela menstrua pelos poderes místicos do tal sarcófago – não menos importante notar que em minha imaginação juvenil a guria da história tinha a cara e corpo da Helena Ranaldi.
Quando ele lançou “O Homem que Matou Getúlio Vargas”, um par de anos depois, eu corri para comprar o livro, e fiquei extremamente decepcionado. O livro era muito bem pesquisado, cheio de curiosidades históricas etc, mas tive a sensação que Jô estava mais interessado em amealhar aqueles fatos interessantes e nos contar causos do que, efetivamente, contar uma história. O “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” foi sumariamente ignorado por minha pessoa em decorrência disso.
Como “As Esganadas” foi lançado na mesma época que eu fazia minha lista para o Desafio Literário 2012, e correspondia ao tema de março, serial killers, resolvi incluí-lo. Bom, a sinopse todo mundo já tá sabendo: um assassino serial atua no Rio de Janeiro nos anos 30, matando gordas. A propósito, a identidade do assassino já é informada desde o prólogo, não tem mistério no livro. Jô Soares disse em uma entrevista que não gosta de livros que se baseiam no mistério de “quem é o assassino?”.
Veríssimo disse sobre o livro que ele é uma ótima descrição dos costumes da década de 30. E é isso. Divertidinho, e só. Os personagens são rasos e Jô consegue descrever os crimes mais escabrosos sem causar o menor impacto no leitor. Zero de conexão emocional. E o “arco” de alguns personagens, como do anão, são simplesmente medonhos em sua banalidade. E você nunca se convence totalmente dos grandes poderes dedutivos do detetive português protagonista do romance.
E eis que, depois de ler o livro, achei uma outra entrevista do Jô Soares dizendo que para ele a pesquisa é a parte mais interessante. Novamente, o livro é muito bem pesquisado, e até didático, mas completamente insoso.
Avaliação: um cafezinho durante o trabalho, daqueles que você toma só pra matar o tempo
5 comentários:
Eu estou lendo "Assassinatos na Academia Brasileira de Letras" para o Desafio Literário. É meu primeiro livro do Jô Soares e notei as mesmas coisas que você: um ótimo trabalho de pesquisa com detalhes históricos interessantes e só. Estou na metade do livro e a história em si é bem fraca. E pelo jeito isso não acontece apenas neste livro do Jô... Pena.
Até+!
Concordo... Meu primeiro livro deste mês foi esse, uma decepção!
Do Jô só li "Assassinatos na ABL" e achei mais uma piada do que qualquer outra coisa. Concordo que o cara pesquisa muito bem, mas o enredo em si, aquilo (o que quer que seja) que segura o leitor na cadeira mesmo qdo o olho não consegue mais se manter aberto, é quase inexistente.
"Cabuloso" é uma palavra que eu não ouvia há muito tempo!
Eu nunca tive interesse em ler um livro do Jô Soares. Sempre tive uma cisma de que, no caso dele, tudo é subterfúgio para que o seu suposto virtuosismo ou vasto conhecimento ganhe destaque. Ele deixa isso transparecer muito nas entrevistas. O que me irrita um tanto. De modo que sempre tropeço em um dos seus livros na casa de parentes, amigos e até aqui em casa (minha irmã comprou esse As esganadas), mas sempre me bate aquela preguiça.
Que jô Soares não gosta de histórias em que o mistério é o assassino dá para perceber em O Xangô de Baker Street, tamanha é a piada que ele faz com o personagem do Conan Doyle. Mas eu gostei.
Quanto 'As Esganadas, nada posso dizer, pois não o li. Só sei que tenho O Homem que Matou Getúlio Vargas para ler ainda este ano, e antes mesmo de começar já estou um tanto desanimada, por causa das críticas.
Mas fazer o quê? Também não se pode elogiar um livro ruim.
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